sexta-feira, 18 de março de 2011

um unico momento!!

Não acredito que haja dor maior que a morte de um filho. A princípio
é uma dor bruta, sem forma ou sem cores, como se fosse uma montanha
de pedra que se assenta sobre o peito, eternamente. Com o passar do
tempo essa dor bruta se transforma. Passa a ser muitas, cada uma com
um rosto diferente, falando coisas diferentes.
Há aquela dor que é pura tristeza pela ausência. Ela só chora e
diz: "Nunca mais...". Outra é aquela dor que se lembra das coisas
que foram feitas e deveriam ter sido feitas: a palavra que não foi
dita, o gesto que não foi feito. É a dor da saudade misturada com a
tristeza da culpa. E há outra dor: a tristeza de que o filho não
tenha completado o que começara.

Existe grande alegria em terminar a obra que se iniciou: ver a casa
pronta, o livro escrito, o jardim florescendo. A vida de um filho é
assim: um sonho a ser realizado. Aí vem o impossível meteoro que
estilhaça o sonho. Fica a casa não terminada, o livro por escrever,
o jardim interrompido.

Essa era uma das dores daquele pai que me falava da sua dor pela
morte do filho... Assim sentia aquele pai: seu filho era uma sonata
que mal se iniciara... Compreendi, de repente, que a dor da sonata
interrompida se deve ao fato de que vivemos sob o feitiço do tempo.
Achamos que a vida é uma sonata que começa com o nascimento e deve
terminar com a vellhice. Mas isso está errado. Vivemos no tempo,é
bem verdade. Mas, é a eternidade que dá sentido à vida. Eternidade
não é o tempo sem fim. Tempo sem fim é insurportável. Eternidade é o
tempo completo, esse tempo do qual a gente diz:"Valeu a pena".

Compreendi, então, que a vida é uma sonata que, para realizar a sua
beleza, tem que ser tocada até o fim. Dei-me conta, ao contrário, de
que a vida é um álbum de minissonatas. Cada momento de beleza vivido
e amado, por efêmero que seja, é uma experiência completa que está
destinada à eternidade. Um único momento de beleza e amor justifica
A VIDA INTEIRA

Nenhum comentário:

Postar um comentário